sábado, 8 de novembro de 2008


Ah, a sociedade das aparências, a sociedade de faces. Pela manhã, juntos, vamos à rua e compartilhamos um singelo cachorro-quente. À noite, em camas separadas, geograficamente, dormimos.
O porquê de seguirmos uma sociedade tão hipócrita em seus conceitos, não sabemos. Mas, sabemos o que é necessário. E seguir tais regras no século XXI é de extrema necessidade. Quem propôs regras tão ridículas e contraditórias, não sabemos. Mas as seguimos como meio de sobrevivência. Recordamos os que a pouco foram de encontro a elas e tiveram seu destino desviado. O porquê não sabemos. Talvez os núcleos atômicos se encontrem, daí uma repulsão e um distanciamento brutal. Foi o que interpretamos quando paramos de pensar em nós e fomos refletir sobre o sugerido assunto. Sobre a sugerida sociedade.
O homem, em geral, é uma marionete. Sim. Uma marionete desta sociedade. Quando nada está bem recorre-se a ela.
Em casa rumos contrários. Tortuosos e perdidos são os rumos. Porém, nas ruas da nossa bela Recife caminhamos com as mãos dadas e um único objetivo: Voltar para casa e não ter a necessidade de demonstrar aos outros tão bom estado de espírito, tanta felicidade. É porque ela existe para ser demonstrada às outras pesoas, as quais não conhecemos. Temos que mostrar a elas como somos aparentemente felizes. Por enquanto não nos preocupamos em mostrar ao nosso, em nossa humilde casa, como é ser feliz de verdade.
Não sabemos o que pode vir a ser isso. Ser feliz de verdade. Nesta nossa íntima e feliz sociedade estamos desaprendendo o significado desta palavra, verdade. Cremos que sim. Concordamos que daqui a alguns anos ela será esquecida por falta de uso. Então nesta causa Lamarck tinha razão, é a lei do uso e desuso, pois bem.
Fomos pesquisar mais sobre assunto. Descobrimos que em nossas sutis vidas, cheias de hostilidades e compreensões forçosas, ao menos temos uma aparência feliz e ela pode tornar outras pessoas felizes ou pode despertar uma inocente inveja residual nos animaizinhos que nos cercam, tão tolos, frágeis e inodoros. Pobres animaizinhos, são como nós, tão inocentes que não são capazes nem de concluir um manifesto, ou um “protesto tímido”, como diria Drummond. Podemos considera-los tão singelos e sensíveis que ,por humilde comparação, os achamos tão semelhantes a nós. Sim, a nós. Claro, não somos animaizinhos, somos capazes de concluir um protesto tímido e aguardar os próximos, porque somos nós que estamos redigindo o texto. Se não o fosse seriamos igualados a estas hereditárias criaturas, as quais guardam em si todos os rancores e descrenças desta tímida sociedade aparentucial, perdoem o neologismo.
Observando os feitos de Maquiavel, recordamos uma frase bem compatível a esta realidade tão casual como a nossa. É completamente aceitável que “os fins justificam os meios”. Mas, é claro que antes de realizarmos qualquer feito pensaremos no nossos semelhantes, queremos dizer, nestes animais que nos cercam e roçam nossas pernas em busca do restinho que ficou no nosso prato de almoço.
20 de outubro de 2008.